Depois do post anterior preciso admitir que este carrega certa contradição. Aprendi com um daqueles professores que se admira e venera, na faculdade, numa matéria optativa que tive a sorte de escolher: uma topada de joelho na quina da cama todo dia e você perde a perna! O inédito é bom, é bem-vindo, dá uma sacudida na gente, faz ficar alerta, ta ligado com a emoção e é o que dá o tempero na vida. Você procura por ineditismo quando escolhe seu destino de férias ou quando pede um prato diferente do menu. Ou quando decide parar de trabalhar pra fazer um mestrado, numa coisa que vc nunca estudou, numa língua que vc não domina e num país que vc não conhece direito. Então o inédito precisa ter uma certa aura de raridade, ele é pouco freqüente por definição, oras.
Sabem aquela formulinha da televisão que fica insistindo em te fazer crer que vale à pena ver mais do mesmo? “Pela primeira vez na televisão” ou “Inédito no Domingão do Faustão” (o que pode ser ainda inédito no Domingão do Faustão, peloamor?). Pois é, estão usando a velha e barata fórmula do ineditismo pra tentar capturar a sua atenção pra algo que já virou mais que previsível. Mas funciona.
Ando sentindo certa overdose do inédito. Estar aqui vivendo uma experiência que fica confinada em um único ano, com alta densidade de diferentes emoções, dá a sensação de que o dia seguinte é sempre o primeiro de alguma coisa. Agora então que ta chegando o verão e terminando a LSE, ta rolando uma alta freqüência de adeus. Tudo vai terminando aos poucos, todo dia, um adeus por dia, uma pessoa por semana. É uma sensação infinita de queda de montanha russa e parece que o fôlego não vai dar.
Acho que eu quero o conforto da minha rotina de volta, nunca achei que fosse dizer isso. Quero a vida cotidiana da qual a gente tanto reclama. Quero fazer o caminho do trabalho de olho fechado, ligar o rádio e encontrar percussão com o ronco da cuíca, pedir em padaria carioca um "minas quente com suco de laranja, por favor" e quero a certeza de que meus amigos vão estar às 20h em algum bar ali da Vila Madalena, tomando cerveja de garrafa em copinho de boteco. Quero mensagem da Nanda no celular domingo de manhã "vem tomar sol aqui" e da Fabi avisando "to no clube". Sei que depois de 1 ano de rotina eu vou estar subindo pelas paredes de novo, mas nesse momento não quero mais topar com o joelho na quina da minha cama, mas sim acordar tranqüila, abrir minha janela pra deixar entrar o sol e dar bom dia pra quem eu amo.
O frio na barriga é bom, mas tendo demais deve até matar. Amanhã tenho prova, nem deveria estar aqui desviando da quina de novo.