terça-feira, 31 de março de 2009

DE VOLTA PARA O FUTURO


Março merece um post. Eu faço aniversário em março. E é o mês que começa na ressaca de carnaval, não muito justo pra ele. Também cantaram por aí que "são as águas de março fechando o verão" * que dão o tom para esse mês. Hm... o Tom Jobim ta meio fora de contexto aqui em Londres. Pela primeira vez meu aniversário caiu no inverno, não teve nenhuma tempestade e isso é um tanto peculiar para uma pessoa carnavalesca como eu. Na verdade, não poderia reclamar porque o inverno até que tem uma vantagem, ele precede a primavera, e a primavera da Europa parece ser muito mais legal que o verão. Ela traz flores e novidade. A moda mais esperada entra com a primavera. As pessoas mudam de humor e de comportamento na rua, por causa da primavera. Isso é tão marcante que eu resolvi guardar em março um espaço nesse blog, mas na verdade ele foi escrito em abril. Típico da minha pessoa planejar esse tipo de coisa, vc vai dizer. Eu sei, mas é que dentro de mim março parecia mesmo merecer a devida atenção, ele não podia ser um buraco, uma ausência, um lapso bem no meu bloguinho! Ta explicado, né? 

 

Bom, o que vcs vão ler aí pela frente começou motivado pelas cores da estação (não as flores, mas das roupas que estão invadindo as lojas) e terminou interrompido por uma manifestação. Foi certamente direcionado pras mulheres na minha cabeça e tem a despreocupação literária de um e-mail. Lá vai:

 

De repente me deu uma vontade de esquecer um pouco a vida acadêmica e voltar pro mundo da futilidade. Não sei por que, lembrei das minhas amigas, irmã, mãe e primas...rs. Deixa eu contar... a moda aqui tá toda fluorescente.

Sabe a sua caixa de caneta marca texto, que tem rosa, laranja, amarelo, verde e azul? Pois então, é isso que a primavera trouxe pro look londrino e não dou muito tempo pras ruas estarem enfestadas dessas cores. Se você fosse pensar nos anos 80 e eu te perguntasse qual a primeira pessoa famosa que vem à sua cabeça, acompanhada de um estilo marcante da década (tanto em cores quanto em atitude)? Fiz isso comigo mesma (tente me imaginar me perguntando isso) e deu... CINDY LAUPER! Sim, ela é perfeita pra ilustrar o que to querendo dizer, então pense nela agora. Não é novidade que a moda se alimenta de passado, já estivemos em todas as décadas mais de uma vez, desde o fim do século XX. O mais louco foi eu me dar conta de que, mesmo pagando uma de "não sou influenciável, não compro coisa que tá na moda" eu tenho que admitir que viajar no tempo é irresistível!!! Hoje mesmo comprei uma camiseta laranja... mas calma! (ela é listrada com cinza, reveza a sua cafonice com a sobriedade de uma cor quase-morta, portanto ainda não to louca). A Paka Lolo é que ia se dar bem se ainda existisse, viu? Isso já chegou aí? Não vale responder que a idéia da Ponte Estaiada em São Paulo foi concebida com base em influências de marca-texto amarelo-limão (nhé).  Eu e minha prima tínhamos uma fantasia favorita que a gente definia dizendo "é de roqueira!" Consistia na sobreposição de duas camisetas tamanho G, uma roxa e outra verde-limão, acompanhadas de uma faixa trançada que servia tanto pra cintura quanto pro cabelo. Genial! Até isso voltou, impressionante como a moda é cíclica (o que não é novidade mas sempre consegue surpreender). Por exemplo, uma coisa que eu apostei comigo mesma que nunca - nunquinha mesmo - iria voltar é o topete das meninas. Sim, to-pe-teee, ele voltou! Aquele no fim dos 80 e início dos 90 (eu na pré-adolescência), quando as meninas de madeixas lisas empurravam o cabelo da metade da cabeça pra frente e as de madeixas crespas improvisavam empurrando só a franja mesmo e prendendo com uma fivelinha. Argh! Mais feio que anos 80 (já que eles até têm seu charme) são os inexpressivos 90, me desculpem. OK, vamos dar à influência de Amy Winehouse a devida importância porque aqui em Londres a cópia do look dela é nítida, com direito a laço de fita no cabelo, vestido de pin-ups e até pinta forjada. Mas daí a evoluir de uma cópia de Amy para uma nostalgia topeteira é demais pra minha capacidade de adaptação e contemplação do "novo".

Bom, fora isso ta rolando hoje (01/04/2009) uma manifestação gigante contra o G20 aqui do lado de casa, vcs devem saber. Moro a 1 estação do centro financeiro de Londres. Tem um helicóptero mala que não pára de sobrevoar a minha casa e tirar a minha concentração dos estudos (por isso vim pra internet, ieeei). Passei lá perto à tarde quando voltava de Notting Hill (aliás, tarde linda de sol e uns 14 graus, auge do 'verão', todo mundo animado) e fui me aproximando de curiosa. Tinha um monte de gente acampada, dançando, sorrindo e fazendo social. Parecia mais um 'revival' de woodstock bem ao estilo 'politizados bonitinhos' do Santa Cruz do que uma manifestação. Isso não é uma crítica, eu achei legal. Penso que o sentido de se mobilizar pode ser muito mais simples do que nós pensamos. Não é sobre invadir terras com foice, a la MST, mas sim levantar a bunda da cadeira, parar de fazer o que faz todo dia pra ir apoiar um ideal. É isso, APOIO, presença, mover-se em favor de uma causa. Falando nisso, na Antropologia, por influência do McLuhan, do Boyer e do Appadurai, clama-se que a mídia simboliza ausência. Por ser uma mediação ela pressupõe de primeira que a pessoa não ta presente, ta lá de longe recebendo uma informação massificada... ta aí porque a gente não tem atuação política, é a inércia da poltrona com TV! Voltando à causa, queria só dizer que é bonita, justa e necessária. Devíamos incluir esse tipo de hábito na nossa vidinha urbana classe média-alta. Tudo isso rolando e eu fazendo compras na Oxford Street ao voltar da casa da depiladora em Notting Hill !!! Tsc, tsc, tsc. Por isso que o Brasil não vai pra frente!

* ref.: "Águas de Março", de Antônio Carlos Jobim.