quinta-feira, 16 de setembro de 2010

GO EAST




















foto: downtown Beirute, Líbano

Já faz 15 dias que voltei do Oriente Médio.
Eu conversava hoje no almoço com um amigo sobre viagens, ele é um cara que não curte ir pra lugares que as pessoas geralmente amam. Tipo NY (lugar que eu adoro, só pra deixar claro). Eu acho que sei por quê. Mas nunca tinha perguntado. Temia escutar um clichê do tipo "odeio ir pra onde todo mundo vai... povo sem criatividade", ao mesmo tempo em que sabia que ele não soltaria nenhum clichê. Ele me surpreenderia na escolha das palavras, como de costume. Então perguntei. E a resposta: eu quero ficar impressionado com as coisas.
:-)

Eu nunca tinha ido mais a leste do que na Lituânia, então essa foi minha trip mais exótica, além do resgate das raízes libanesas, claro. E a melhor definição do que senti, pra todas as cidades (na Turquia, no Líbano e na Jordânia) foi a invasão descontrolada do ineditismo através dos meus cinco (seis) sentidos. Deserto, turbantes, cedro, cânticos muçulmanos que saem das mesquitas e uma comida tão familiar quanto inédita! Ah, e uma intuição diferente, em outro timing, entorpecida, bêbada, mas que estava lá.

Esqueça todas as suas referências sobre o certo e o errado, o perigoso, o belo e sobre a liberdade. Tudo lá tem outra lógica, tudo! Desde se sentir extremamente desconfortável como mulher ocidentalmente (e cuidadosamente) vestida, até ter a certeza absoluta de que não existe um ladrão sequer pra te assaltar por aquelas bandas. Eles são simpáticos demais, respeitosos ou tarados? E como, Jesus, como pode um desertão daqueles ser o lugar mais disputado (e menos em paz) do mundo? Alguém ali lembra que existe coisa como uma Amazônia, uma Bahia, uma Ipanema? Me diz como um país em que o guarda de fronteira te recebe melhor que aquela sua tia mineira pode estar numa das bordas mais belicamente tensas do planeta? E por que então catso a autoridade de fronteira em Londres, terra livre onde tudo pode, é tão ameaçadoramente grosseira? E por que o Líbano teve o azar de estar ali no meio da briga se tem tanta gente ocidentalizada, baladeira e aberta em Beirute? Quem foi que colocou esse povo lá, Alá? Ou como a pequena fronteira ao norte de Israel selou o destino dos libaneses a uma guerra que não lhes dá tempo de levantar se a Jordânia é que tem o oeste inteirinho e super comprido colado em Israel todo?
Cara, o que é aquele Mar Morto? Um mar onde nunca se morre afogado, não tente se suicidar lá porque não afunda. Por que todo mundo fica em paz em Petra, na Jordânia, onde obviamente tem fantasmas de beduínos e mercadores que nunca pararam de passar de um lado pro outro, como se presos a uma única (eterna) rotina possível?

Por que, no fim de tudo, me deu uma vontade louca de passar um dia inteiro na H&M comprando em Londres, por que eu voltei a tolerar o Starbucks, por que deixei em Londres tantos dólares/euros/libras/liras/dinars em 1 único dia (e meio) de passagem? Será que estamos mal acostumados com a liberdade? Ela vicia, ela entorpece, ela impede de cultivar valores religiosos, místicos ou tradicionais? Isso é bom ou ruim? Será o consumismo um ópio pior que a religião? Por que eu faço tantas perguntas? Agora elas me perturbam. Quantos lugares mais existem para nos surpreender? De quantas férias precisarei para percorrê-los, todos? Perguntas perturbam. Chega. Vira, vira pro outro lado, mira o pôr do sol, vai pra casa. Go West. Life is peaceful there*. And you don't have to think too much about it.

* Petshop Boys