sábado, 15 de agosto de 2009

HAPPINESS ONLY REAL WHEN SHARED





Tenho uma resposta pronta esperando para ser pedida. Do que mais gostei em Londres? Dos AMIGOS que fiz (ou mantive) aqui. Sem apelar pro clichê mas já apelando, confirmei minha crença de que na vida a melhor de todas as aquisições é a amizade. Se eu me virei pra aprender antropologia em inglês, foi porque conversei muito com pessoas, pedi a opinião delas, confiei-lhes meus medos e dúvidas nessa disciplina e contei com a sua parceria na hora de bolar estratégias pra estudar, memorizar, escolher, planejar. Se eu aguentei o inverno foi porque no quarto ao lado tinha uma lituana que parecia minha amiga de infância e na porta de quem eu batia até de madrugada quando queria contar peripécias. Se eu superei as decepções foi porque dei muita risada e não parei quieta em casa por conta dos meus amigos brasileiros, sempre os preferidos, sempre mantendo o humor, fazendo pão de queijo e marcando sarau de samba e bossa nova. Se este foi o ano mais intenso e divertido da minha vida foi por causa deles. Se existe algo que farei questão de cultivar é a amizade deles. "Happiness only real when shared" * é um dos maiores insights que um filme já me deu. Nada na vida tem graça se você não tiver com quem dividir a sua alegria. E tem um amigo meu peruano cujo amigo esteve aqui e fez um filminho que traduz a alegria de Londres quando chega a primavera. Claro que não é coincidência o fato de a beleza do filme estar em retratar a vida real dos amigos, como ele fez. A música também é dele (François Peglau). Ah, e reparem no que está escrito nesse muro atrás e à direita do cantor de rua.

* do filme "Into the Wild"

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

SEI QUE AINDA VOU VOLTAR

Porque o Brasil é o Brasil:

sábado, 1 de agosto de 2009

SERÁ QUE VOCÊ ME ENTENDE?

A difícil e excitante tarefa de entender o que se passa na cabeça alheia não é privilégio de planejador. Traduzir pensamentos em linguagem é naturalmente um desafio que desde sempre estimulou o ser humano a se virar com inúmeras técnicas, da mímica à agência de propaganda. Tente, por exemplo, imaginar como seria ter que traduzir pensamentos através de arte. É o que se pode conferir na exposição “Walking in my mind”, que está rolando na Hayward Gallery em Londres. Trata-se de “uma expedição ao misterioso processo criativo mental” de artistas plásticos. Dez artistas usaram de pintura a sinal de fumaça pra traduzir como é sua mente durante a criação (ou como eles gostariam que a gente acreditasse que ela é). E a gente anda lá no meio das instalações, como se estivesse naqueles brinquedos de parque de diversões, topando tanto com lata de refrigerante quanto com pornografia. O grande barato de viver a experiência de estar dentro da mente deles é reconhecer coisas que provavelmente também estariam na sua e tentar imaginar como você faria essa tradução. Um dos artistas, o Thomas Hirschhorn, declarou que a obra dele foi concebida com a intenção de criar condições para que aconteça ‘a atividade do pensamento’ por parte do espectador: ”quero provocar um diálogo ou um confronto na cabeça da outra pessoa”. Não tenham dúvida de que ele conseguiu.

Motivadas pela mesma pergunta, antropologia e psicologia já foram bem longe na tentativa de entender o pensamento humano, embora elas ostentem diferenças fundamentais. Enquanto a primeira tem uma preocupação mais coletiva e olha para o ‘ser social’, a segunda se volta para o ‘indivíduo’, procurando compreender seus processos mentais isoladamente. Não à toa, antropólogos e psicólogos costumam discordar bastante sobre particularizar demais (antropologia) ou generalizar demais (psicologia) uma verdade sobre o ser humano. Mas quando eles se entendem o resultado é muito interessante. Maurice Bloch, antropólogo professor na LSE (Londres), é exemplo vivo disso. Ele não teve a chance de passear dentro da cabeça de ninguém, como a exposição sugere que é possível, mas a sua produção acadêmica pode ser considerada fruto dessa tentativa, que é antropológica mas está cheia de insights da psicologia. Abordando a relação entre eventos, memória e narrativa, ele tenta provar que a transmissão do conhecimento, de geração para geração, não é só produto do pensamento mas também é causa. Afinal, nem tudo o que fica guardado aí na sua memória é 100% fiel aos acontecimentos, tem muita coisa que você confunde, muda, cria e passa adiante com outra formatação. Isso é criar história através de narrativa.

Depois da exposição e da universidade, te convido para um café e te faço uma pergunta: como você traduziria o que se passa na mente do seu consumidor? Se você está atento ao discurso das marcas e ao que declaram as pessoas que as consomem, em infindáveis grupos de pesquisa, você deve ser capaz de imaginar um ambiente “Walking in my mind” só com base nessa narrativas. Muito mais enriquecedor do que levar ao pé da letra o que o consumidor fala em sala de espelho. Penso no quanto ainda estamos presos a antigos padrões de pesquisa e de apresentação e às vezes tenho vontade de migrar para o mundo da arte pura, só pela certeza de que poderei traduzir melhor os pensamentos sem amarras de verba, prazos malucos, cliente muito conservador ou velhos hábitos. Será que você me entende?